A Gaivota Farragulha

    quinta-feira, maio 28, 2009

    segunda-feira, maio 25, 2009

    Quando dois desbocados se juntaram em directo na TVI...

    O telejornal da TVI é péssimo. Nao o tolero. A Manuela Moura é, sem sombra de dúvidas, uma personagem que merece pouco o título de jornalista, sendo porventura mais uma comentadora do que uma relatora da realidade. No entanto, é também importante referir que este jornal ocupa um espaco particular dentro do panorama da comunicacao social portuguesa. Por sua vez, o Dr Marinho Pinto é também um homem que nao segura as palavras. Nao posso julgar o teor do seu trabalho (como advogado, nao como jornalista) pois desconheco por completo aquilo que ele representa ou defende. Tudo o que posso afirmar é que esta exibicao de arrogancia e mau-debate de ambas as partes nao beneficia ninguém, nem o público, nem o jornalismo. Espero por isso que este caso nao seja o início de um tendência crescente em Portugal..

    quinta-feira, maio 21, 2009

    As três premissas do processo de paz no Médio Oriente


    ('O Arquipélago da Palestina Oriental' caso fosse rodeada pelo mar e não por Israel. Julien Bousac via Le Monde Diplomatique)


    A presente proposta de paz no Médio Oriente assenta em três convicções:

    1. A paz no Médio Oriente é urgente e necessária. Segundo diversos analistas, e inclusivamente a Secretária de Estado Norte-Americana, Hillary Clinton, o fracasso deste processo de paz acarretará consequências catastróficas para a região e o mundo: logo de imediato, despoletaria uma terceira Intifada (‘rebelião popular’) que implicaria nova intervenção do exército israelitas nos territórios palestinianos; reforçaria também a posição do Hamas, o partido palestiniano da não-colaboração, e, eventualmente, aceleraria o eclipse do Fatah, o único parceiro palestiniano aceite pelos Israelitas; seria, assim, o ponto final, ou então o regresso ao início deste processo de paz; por outro lado, a intensificação do conflicto restabeleceria a soberania popular de grupos regionais como o Hezbollah no Líbano (que seria inevitavelmente o primeiro país a ecoar a violência) ou a Muslim Brotherhood no Egipto (onde a elite política enfrenta agora o dilema da sucessão de Hosni Mubarak) e de regimes sustentados pela oposição ao Sionismo e ao mundo ocidental como a Síria (silenciada por agora pela grave crise económica) e o Irão (a um passo de adquirir a bomba atómica e de incitar uma ‘corrida às armas’ na região). O problema do Irão é, pelo menos, bicéfalo: por um lado, existe o risco de uma disputa militar entre o Irão e Israel; por outro, resiste a contenda entre o Irão Shiita e os Árabes Sunitas que não vêem com bons olhos a afirmação de um velho inimigo. Daí, à destabilização da paz mundial, ao aumento do preço do petróleo e à crise social na Europa é um pequeno passo.

    2. Os Palestinianos precisam de um Estado. A Bósnia tem um, Timor-leste tem um, o Kosovo tem um e a Palestina continua à espera de ser reconhecida. A partir da Guerra dos Seis Dias em 1967, durante a qual Israel capturou a Margem Ocidental e a faixa de Gaza, os palestinianos perderam a sua autonomia nacional. A Autoridade Palestiniana, a organização que governa os territórios palestinianos num regime de quase partido único, é reconhecida no palco internacional meramente como uma representante interina e não como a legítima representante de um Estado autónomo e soberano. As suas competências resumem-se ao controlo de questões civis e de segurança numa pequena parcela do território. Na práctica, a situação traduz-se na impotência da Autoridade face à proliferação de colonatos israelitas nos territórios palestinianos, aos constantes postos de controlo militar israelitas e a muitas outras restrições da liberdade individual e colectiva das populações palestinianas. Acima de tudo, a nova administração Obama considera que a atribuição de um Estado Nacional aos Palestinianos é essencial para a segurança de Israel, da região e, em última análise, dos próprios Estados Unidos da América.


    3. Os Israelitas estão dispostos a aceitar a criação do Estado Palestiniano pela obtenção de segurança. Segundo sondagens recentes, a grande maioria dos Israelitas reconhece a necessidade de alcançar a paz com os Palestinianos para vencer diversos obstáculos nacionais, desde a recuperação do sector turístico, à estabilização do volúvel sistema político e, acima de tudo, à restituição da segurança pública. Os Israelitas estão hoje, mais do que nunca, prontos a aceitar o retorno da Margem Ocidental, da faixa de Gaza e, porventura, dos Montes Golans, em troca de uma paz abrangente com todos os países na região que já foi designada como a '57-state solution.' Nesta solução, os Israelitas estariam dispostos a abrir mão dos territórios conquistados em 1967, e mantidos desde então como moedas de negociação, por um acordo de paz que visaria não só a cessação de ataques terroristas pelos palestinianos, mas também a abertura de relações diplomáticas com os países da Liga Árabe e do levantamento de restrições de viagem na região. Deste modo, os Israelitas conseguiriam alcançar a grande ambição de resolver a questão da insegurança e ansiedade nacional ao abafar as vozes oficiais que ainda defendem a sua aniquilação territorial. Aquém de obter um reconhecimento unânime e geral, os Israelitas retirariam assim o apoio de Estados soberanos, com a excepção do Irão, aos grupos e indivíduos que planeiam a sua extinção. Seria, do ponto de vista Israelita, uma enorme conquista, sessenta anos depois da sua atribulada chegada à comunidade internacional.


    No próximo artigo: As razões do meu cepticismo em relação a este processo de paz.

    quarta-feira, maio 20, 2009

    O Julgamento do caso Politkovskaya - FINAL


    (Dzhabrail Makhmudov e o advogado Murad Musaev abandonam juntos o tribunal. AP Photo/Misha Japar)


    The jury took less than two hours to bring back a unanimous verdict of not guilty on the counts relating to the Politkovskaya killing, and, more surprisingly, not-guilty verdicts for Khadzhikurbanov and Ryaguzov on the travel agent case (The prosecution has exercised its right to appeal the verdict.) Ilya Politkovsky stood stonily as Dzhabrail and Ibragim were released from the cage. Dzhabrail came over and put out his hands. Reluctantly, Ilya took it. He listened to Dzhabrail express condolences for his loss and then merely said, 'Congratulations.' He said the same to the boy's mother. He continued to believe that the Makhmudovs knew something, even if, whatever they were doing whenever they were doing it, they hadn't meant any harm.

    That evening, I took the subway to Politkovskaya's old neighborhood. Her doorway is the last one before a pleasant residential area turns into a business district that's under radical reconstruction. Four fifteen-story office buildings are in varying stages of completion rights across the street; next to them, recently opened, is a ten-story Holiday Inn. The sidewalk has been torn up and replaced by wooden planks and a corrugated metal roof. The green Lada wouldn't be able to park around the corner now, because a construction median occupies the middle lane and an aboveground pipe runs along the street. There is a new entrance to the subway station, not two hundred feet from her house. And one more addition. Like the many plaques throughout the city, explaining that Pushkin or Bulgakov or Lenin lived or spoke at this address, there is a plaque next to Politkovskaya's doorway. It reads, 'In this building lived, and was cruelly murdered on October 7, 2006 Anna Politkovskaya.'

    On the day of the verdict, the courthouse was besieged by video cameras. When Karina Moskalenko came outside, she began to address them, twenty microphones gathered in a great bunch like flowers before her. 'Sit!' someone called to the microphone holders, and on commanded they crouched down so that the cameras behind them had a view. Moskalenko thanked the international press for paying attention to the killing and the trial; she pleaded with them to continue to pay attention; the real killers hadn't been caught, she said, much less put on trial, and the press and civil society had a responsibility to keep up the pressure. It was Moskalenko's moment. 'I've dreamed my whole life as a lawyer of a trial like this,' she had told the day before. 'The openness to the press, the adversarial process, before a jury, a judge who lets the sides express their opinions.' She didn't want it to end. Her next case would be another trial of Mikhail Khodorkovsky, and that one would be rigged.


    (Mesmo depois assassinada, Anna Politkovskaya continua a ser a principal voz da oposicao Russa. Yuri Kochetkov/EPA)

    FINAL...

    terça-feira, maio 19, 2009

    O Rei vai nu



    (Michael Martin simbolizava a ascensao social no Reino Unido moderno, tendo crescido no ambiente indústrial da Escócia dos anos 50. Getty via The Independent)



    A demissão do Presidente da Câmara dos Comuns do Parlamento Britânico, Michael Martin, irá certamente levantar algumas sobrancelhas para lá das praias do Reino Unido. Martin demite-se não por envolvimento pessoal no escândalo sobre os gastos dos deputados (apesar de existirem dados relativos a viagens de táxi por familiares seus), mas sim pela forma como lidou com o escândalo. Na opinião dos deputados que votaram na moção de censura, diga-se conservadores, liberais e também trabalhistas, Martin merece a pena máxima pela sua reticência em condenar os deputados envolvidos. Por outras palavras, a sua atitude poderá ter indiciado conivência com interesses estabelecidos. E pela mera existência dessa possibilidade, Martin perdeu o lugar.

    Aos olhos de grande parte dos comentadores 'continentais', a punição parece por isso desmedida. Porém, é necessário compreender o simbolismo catastrófico do escândalo dos gastos dos deputados para os cidadãos britânicos. Em primeiro lugar, não é de todo acessório à dimensão do escândalo o facto de estarmos hoje a atravessar a maior crise económica desde a Grande Depressão: que autoridade moral pode resistir em políticos que pedem aos eleitores para apertar os cintos e depois gastam o dinheiro público em estrume de cavalo, assentos de retretes e até tampões higiénicos (reclamados por um deputado masculino)? Nenhuma. No entanto, existe um motivo mais profundo no ódio popular que advém da própria relação que os Britânicos têm com os seus representantes políticos: o orgulho no sistema parlamentar bicameral.

    O sistema parlamentar bicameral é a contribuição Britânica para a História universal da democracia (veja-se a sua influência sobre organização política das antigas colónias britânicas, sobretudo dos EUA), o indispensável bastião da luta pela justiça e igualdade social nas ilhas britânicas e, acima de tudo, a origem de muita arrogância face a outros sistemas mais inseguros ou falíveis. No fundo, a suposta imaculabilidade da Câmara dos Comuns abriu caminho para que os Britânicos pudessem fazer chacota das inconsistências, ineficiências e espaços cinzentos dos outros sistemas políticos. O que o escândalo trouxe a público foi que tudo isto não passava de uma fantasia: de um para o outro, o sistema político passou de modelo a espectáculo deprimente. Ou, como dizia este fim-de-semana uma jornalista italiana, o escândalo desvendou ao mundo o elemento caracterizador da sociedade britânica: a hipocrisia.

    De uma forma ou de outra, os Britânicos sentiram-se desiludidos, traídos e humilhados e olharam para o porta-voz desta instituição em busca de qualquer conforto ou redenção. Porém, tudo o que encontraram foi um homem que não tinha nada a dizer. O Rei estava nu. E, no meio da revolta, das acusações e recriminações, os Britânicos fizeram exactamente o que se esperava deles: arranjaram um bode expiatório que os restituísse à sua posição natural: a de quem aponta o dedo. How predictable!?!

    segunda-feira, maio 18, 2009

    'Pakistan is a victim of what is happening in Afghanistan'

    Fareed Zakaria mais uma vez consegue a GRANDE entrevista da semana ao entrevistar este fim-de-semana, o ex-Presidente e ex-Chefe do Estado Maior Paquistanês, Pervez Musharraf. Do meu ponto vista, este discurso é uma bela manobra de retórica política que acaba por evitar o verdadeiro problema do Paquistao: a corrupcao que atravessa quase todos os sectores da sociedade.

    quinta-feira, maio 14, 2009

    Aterragem no Porto


    (Fotografia igrigorik via Flickr)


    O capitão anuncia que estamos a sobrevoar as Astúrias, que o tempo no Porto está bom, que chegaremos antes da hora prevista. As crianças na terceira fila ainda nem tiveram tempo de amainar e já estamos a dez minutos do final da viagem. Na fila de trás, o senhor do chapéu já fez tudo o que havia para fazer: já avaliou a Miss Ryanair na revista da companhia (deve ter gostado porque à saída do avião trás a cópia enfiada debaixo do braço), já pediu, pagou e engoliu uma ciabatta de proscciuto, já foi duas vezes à casa de banho, já esticou um olho até às fotografias da Princesa Letizia na Hola! da vizinha do lado, já comprou um perfume qualquer de mulher no serviço de vendas e já tentou a sua sorte ('With Ryanair, you can be a Millionaire') na raspadinha mais descarada do mundo.

    A hospedeira loirinha que percorre o corredor em pesadas passadas que estremecem os bancos mais do que as próprias rajadas do Golfo de Biscaia, apaga pequenos fogos com a determinação orgulhosa de quem atribui maior importância ao seu trabalho do que o comum dos mortais. A senhora da linha da frente, sentada no lugar do corredor, sacode as últimas migalhas das páginas virgens de um romance policial situado algures na América Latina. Aqui ao lado, numa das primeiras filas do avião – onde me sento sempre por acreditar piamente que na parte da frente faz menos turbulência – mãe e filho alternam entre o português e o francês. Ela fala mais português do que ele, quem se demonstra desinteressado por tudo, mesmo nas primeiras nesgas do verde Minho, para além dos confins de uma revista flamenga sobre engenharia.

    O avião socalca de nuvem em nuvem até alcançar as margens do rio Douro. Cruza-o algures entre o Freixo e a Ponte de Don Luís I, proporcionando aos passageiros do lado direito uma fabulosa perspectiva da cidade, e sobretudo, da mítica etapa derradeira deste rio. No ar, a tripulação agita-se em antecipação da aterragem, recolhendo lixos, distribuindo ordens ('Return to your seats!'; 'Remain seated!'; 'Turn off ALL your electronic devises!' e, mais recentemente, 'Take off your headphones!') e, de modo geral, movimentando-se de forma mais brusca e embrutecida. Detenho-me a pensar quando as hospedeiras deixaram de parecer meninas da meteorologia para adoptarem a subtileza dos seguranças que resolvem tudo ao empurrão. Giramos agora sobre o Monte da Virgem, a Antena da RTP mirando-nos como um punhal afiado, e, por instantes, o avião parece estagnar dos céus. Depois, retomamos a posição original e seguimos em linha recta para o Aeroporto Francisco Sá Carneiro, cruzando de novo o rio Douro já perto da Ponte da Arrábida. Uma voz chama: 'Captain, crew; Captain, crew: five minutes for landing.'

    Afundo-me do banco. O medo, o pavor tremendo de que tudo poderá correr mal no último momento, é apaziguado pelo reencontro com os marcos do meu Porto: a orla branca do mar, a avenida do Brasil ceifando a massa urbana, os cargueiros no porto de Leixões, as torres vermelhas e brancas da Sacor. O avião desafia a pista, acelera, trava, resvala de um lado para o outro, mantém a marcha de descida até aos picos dos pinheiros. O rubor da multidão silencia-se, a respiração suspende-se em previsão do impacto, as mentes encontram-se numa só vontade. Vemos a pista, a pista e o avião ainda não poisa no pavimento, será demasiado tarde?

    De súbito, o avião assenta na pista, rolando violenta, mas confiantemente sobre o alcatrão. Nenhuma voz resiste dentro da cabine. De súbito, a mulher sentada ao meu lado, exclama em português: 'Então, não batem palmas? ' Como que planeado, a multidão irrompe então num clamor de palmas. O filho da mulher ao meu lado rola os olhos nas órbitas, a senhora que vai no outro lado do corredor faz-me um sorriso cúmplice de condescendência e a excursão atrás de mim urra em regozijo. Fazem chacota dos velhos, dos que ainda não estão habituados a andar de avião, dos que temem aterrar no nosso pequeno e pacato Porto. Julgam-os parolos, pacóvios, pobres provincianos portugueses. Eu, contudo, compreendo bem aqueles que têm medo de aterrar no nosso Porto. Não é por falta de hábito nas lides aéreas, mas sim por júbilo e satisfação de regressar são e salvo a casa que eles batem palmas. As palmas são condição 'sine qua non' do sentimento de retorno ao nosso lar. Mas até isso, a sociedade do 'querer bem-parecer', da vergonha mesquinha, da condenação do humilde e do sincero, quer obliterar.

    Por isso, quando abandonei o avião, em último porque os meus companheiros entretanto tinham-se atropelado uns aos outros à saída (sabe lá o motivo de urgência), decidi bater as palmas da próxima vez que aterrar no Porto. Terá que assim ser, até porque, ninguém bate palmas na viagem de regresso.


    quarta-feira, maio 13, 2009

    O julgamento do caso Politkovskaya - VIII

    Continuamos hoje com a serializacao do artigo de Keith Gessen sobre o julgamento do assassínio de Anna Politkovskaya, publicado na edicao de 23 Marco da revista New Yorker:

    (A equipa de defesa prepara-se para alegacoes finais. AP)


    In the last stages of the trial, the prosecution made a few final attempts to salvage the indictment. The junior prosecutor announced that the cell-phone company MegaPhone had been asked if it could give a more precise location for Dzhabrail on the afternoon of October 7th, and MegaPhone, somehow triangulating among the cell towers that had transmitted the calls, had come back with a map that put Dzhabrail exactly in front of Politkovskaya's door. Musaev was immediately on his feet, claiming that this degree of precision was technically impossible.

    He turned to Khadzhikurbanov. 'Tell me, did you ever have occasion to use this kinds of services?'
    'A hundred times,' Khadzhikurbanov said. 'Though I never slapped together anything as clumsy as this.'
    And, when the defense finally played the video of a bulky Rustam covered in mud, the junior prosecutor held the phone up in the air in response and said, 'But there's another video in here, of a thin man.' She brought the phone to Dzhabrail in his cage. 'Tell me. Who's this?'
    'Actually, that's me,' Dzhabrail said.

    Musaev's final statement, which up took up nearly two hours, conveyed his fervent belief in the innocence of the accused. More than that, he was defending two young men, and he himself was young. He sensed that, at some level, everyone was proud of him. The Judge, though often irritated that Musaev never stopped arguing, was proud of him; the jurors, eight of whom were middle-aged women, old enough to be his mother, were proud of him; and the young journalists, who were proud of their contemporary, claimed that they sometimes even caught the prosecutors looking proud of him. Maybe it was tinctured by paternal benevolence toward an upstanding member of a 'problem' minority. In any case, Musaev concluded by playing on this feeling of pride. 'I'm speaking today before you, but I have two more jurors that everyone else,' he said, and went on:

    'I have two more jurors, because when I first took on this case the first to
    object were my parents. My own mother said to me, 'How can you be on the other
    side of the barricades? This woman did so much for the people of our country.
    She saved so many crippled lives.' And then I said to her, 'Mom, I'm not on the
    other side of the barricades from Anna Politkovskaya or her children. I'm on the
    other side of the barricades from the Investigative Committee of the Russian
    Federation, which pretends to solve crimes and wants to call the innocent
    guilty. And this is not something lawyers in our country need any getting used
    to - we are always on that side of the barricades.' And this is precisely why
    today I have two extra jurors, because today I invited my father and my mother,
    so that could hear just how little this indictment is worth, so they could judge
    between myself and the state accusers just as you are judging, honourable
    members of the jury. That's all.'



    Khadzhikurbanov's lawyer gave a short closing statement that included the argument that Khadzhikurbanov could not possibly have organised the killing on October 7th, because it was his mother's birthday. The most intricate closing statement was Moskalenko's. In sixty minutes, it expressed all the ambiguity and difficulty of the trial. She was a defender of human rights, but in this case, in defending the rights of the victims, she was supposed to be allied with the prosecution. This was not a role she enjoyed, especially in a trial where the prosecution was working with an untenable indictment.


    (Karinna Moskalenko, principal advogada de acusacao, acompanhada pelos dois filhos de Anna Politkovskaya, Ilya e Vera. AP)


    Now she went through the evidence against the Makhmudov brothers. She expressed doubt that they couldn't remember October 7th. But she certainly wasn't prepared to accuse them of murder. She pointed out that Anna Politkovskaya had spent most of her last years standing up for the rights of the poor Chechen families, families like the Makhmudovs. 'We do not accuse,' Moskalenko said. 'We categorically do not accuse. We are on the side of the victims.'

    She moved on to Khadzhikurbanov and Ryaguzov with much greater zeal. The evidence against them was thin to nonexistent: Moskalenko knew that. And yet she also knew that they were guilty. They were guilty of collaborating with a terrible regime. Moskalenko now produced a compilation of Politkovskaya's writtings, published two years ago by Novaya Gazeta - 'For What' it was called - and began to read from her description of Russian war criminals in Chechnya. 'Who could have hated Anna for these articles?’ Moskalenko asked. 'Those who were responsible for what happened.' Were Khadhzikurbanov and Ryaguzov involved in her murder? 'At the very least, their view of the world in no way contradicted the view of Anna taken by the authorities.' Of Khadhzikurbanov and Ryaguzov alleged beating of the travel agent, she said, 'I cannot accuse a person without first accusing the system that conditioned him to think that it was acceptable to do these things.' And this was the essential problem with the case - what Sergei Sokolov called 'the total interdependence of the criminal world and the system of law enforcement.' If you believe the cell-phone records furnished by the authorities, why not believe their testimony? They had photographs of the people following Politkovskaya; those people were nowhere to be found. The defendants in the dock were like the ones the authorities could spare.

    Most of the defendants spoke briefly in their final statements. Khadhzikurbanov, who had in the wake of Moskalenko's speech fallen into a state of deep petulance, thanked the jury for spending its time 'looking at a monster like me.' But in Ryaguzov, the F.S.B. agent, one sensed some of the underlying ideological realities surrounding the trial. He thanked everyone for coming. He thanked the jury: 'You have been plunged into the passions of real life, not a TV show. Whether you like it not, you will leave parts of your souls here.' He thanked the side of the victims for its courage. He thanked the Judge for being a model of impartiality. He thanked the defense, of course, and he even thanked the prosecution - 'who was just carrying out orders, like I used to do.' Ryaguzov had spent three months working on crossword puzzles. It turned out, at the end, that we were all just visitors at his place.



    (O tribunal encerra para deliberacoes. AP)


    He had earned the right of home court because he'd defended us all in the war on terror: 'Yes, it's true, we went to some restaurants, we drank coffee, sometimes we drank vodka. But no one remembers that for half a year we drank vodka out of aluminium cups and ate food out of cans.'

    'People have spent a lot of time here talking about some networks of agents,' he went on. 'In all the world, and in all time, no one has invented a way of procuring intelligence, and counter-intelligence, other than through such a network. People know all about the terrible terrorist attacks that happened in our country. They don't know anything about the terrorist attacks that didn't happen - on the sixtieth anniversary of Victory Day, for one. Not long ago, we were afraid to go into our entryways, or when we saw a backpack on the subway. It's not like that anymore. Do you think that happened by itself? It didn't. As for my wishes, I have just one. Next week is February 23rd, and everyone is going to go home, and raise a glass to the defenders of the fatherland. Spare a thought for us.'

    The courtroom was momentarily silent. Ryaguzov told the truth: even amid the financial crisis, Russia is a safer, more prosperous place than it was ten, or even five, years ago. The war in Chechnya is over, even as its aftershocks, in the form of the mutant regime of Ramzan Kadyriv, continue. And in the new Russia if you mind your own business, drive to and from your work, hire a babysitter, and eat out - all as they do in the West, it is said - then you really can feel safe entering and exiting your entryway at four in the morning and four in the afternoon.



    Para a semana: O desfecho do julgamento do assassínio de Anna Politkovskaya!

    segunda-feira, maio 11, 2009

    O momento da verdade para a paz no Médio Oriente

    (O Rei Abdullah II da Jordânia deposita as suas esperancas no novo habitante da Casa Branca. Reuters)

    Numa importante entrevista que faz hoje a capa do jornal britânico The Times, o Rei Abdullah II da Jordânia, reconhece que chegou a hora da verdade para o Médio Oriente (uma entrevista que, de resto, contrasta em absoluto com a concedida esta semana por Tony Blair ao Público). De acordo com o monarca jordano, e já agora com aquilo que escrevi à uns meses atrás, o que está em causa é uma ténue margem entre a paz ou a guerra: 'If we delay our peace negotiations, then there is going to be another conflict between Arabs or Muslims and Israel in the next 12-18 months.'

    Avancando mais alguns detalhes sobre o processo de paz em negociacao, Abdullah revela que já nao se trata mais de uma paz entre duas partes, Israelitas e Palestinianos, mas sim de uma solucao de 57 estados, em que se incluem estados Muculmanos como Marrocos e a Indonésia. No entanto, o The Times faz também alusao às enormes dificuldades encontradas pela administracao americana , principalmente na negociacao com o novo governo Israelita de Benjamin Netanyahu. Os capítulos que seguem nesta História sao por isso cruciais: o início hoje da visita do Rei Abdullah à Síria; ao encontro entre o Presidente Americana e o novo Primeiro-Minístro Israelita em Washington na próxima semana; e, finalmente, o muito antecipado discurso de Barack Obama ao mundo muculmano no mês que vem no Cairo.


    quinta-feira, maio 07, 2009

    AfPak: Será que eles conseguem?



    'The most dangerous place in the world': as palavras de Barack Obama denunciam a sua inquietação face ao crescente envolvimento norte-americano no Afeganistão e no Paquistão - o conflicto já inscrito nos anais das história como a Guerra em AfPak. Obama tem boas razoes para estar receoso: AfPak tem todos os elementos para se tornar na sua Baía dos Porcos, Vietname ou Iraque.

    Na semana em que as tropas americanas iniciam a transição do Iraque para o Afeganistão, Barack Obama certamente não poderá contar com o aconchego dos livros de história. Com efeito, num artigo publicado na edição de Novembro/Dezembro de 2001 do jornal Foreign Affairs, Milton Bearden, director da delegação da CIA no Paquistão entre 1986 e 1989, chama ao Afeganistão 'o cemitério de Impérios'. Foi aqui que o jovem Alexandre de 25 anos, após conquistar a Magna Grécia, o Egipto, o Levante, a Bactria, a Mesopotâmia e o Império Persa, foi ferido quase mortalmente por um arqueiro, marcando o início do final da sua campanha oriental. Foi também nesta região que Genghis Khan, depois de construir o maior império da História, se viu forcado a estabelecer alianças com os autóctones de forma a atravessar as suas estradas. Foi exactamente neste território que, como de resto já foi escrito no último capítulo da série 'Compreender o Paquistão', o avanço do Império Britânico pela Ásia do Sul foi detido no século XIX. Dos 16,500 soldados e civis que participaram da retirada britânica de Kabul em 1842, apenas um sobrevivente chegou ao seu destino (embora alguns dos capturados pelos Pashtuns tenham sido mais tarde libertados).

    Contudo, não são apenas os relatos históricos que nos suscitam cepticismo em relação ao envolvimento norte-americano em AfPak. O primeiro elemento a saber sobre a situação actual é que os americanos enfrentam, pelo menos, dois inimigos: os Taliban e a Al-Qaeda (ou os outros grupos terroristas que operam na região). Embora escasso e ambíguo, o nosso conhecimento sobre estes dois inimigos leva-nos a crer que eles têm objectivos díspares: os Talibans são constituídos pelo povo local, os Pashtuns, e pretendem reconquistar o poder no Afeganistão e talvez reforçar a sua posição dentro do Paquistão; pelo contrário, a Al-Qaeda, constituída em sentido lato por combatentes estrangeiros (maioritariamente provenientes da Arábia Saudita), pretendem usar o conflicto para atear a luta global pelo Pan-Islamismo e, mais especificamente, obter a bomba nuclear através do controlo do Paquistão.

    À partida, a administração Obama demonstra-se inclinada a estabelecer pactos com os Talibans no Paquistão e a combater ferozmente a Al-Qaeda no Afeganistão e Paquistão. No entanto, como demonstra o falhanço recente desta estratégia na Província da Fronteira Noroeste Paquistanesa, ninguém sabe ao certo qual a natureza das ligações entre estes dois grupos; por outras palavras, talvez será impossível dissociar um do outro no campo de batalha. Isto sem tomar em consideracao o autêntico pântano que é hoje o Paquistão, onde os Americanos continuam num quarto às escuras como que à procura da corda da persiana (por outras palavras, as faccoes em que podem confiar). Mormente, a necessária reversão de políticas humanistas - como a promoção dos direitos das mulheres - para a negociação com os Talibans, poderá acarretar avultadas consequências para o moral das tropas ocidentais na região ('afinal, estamos a lutar por quem e o quê?'), assim como dissolver uma das justificações fundamentais para o público americano: a missão dos EUA de promover os direitos humanos a nível global. Por último, e no momento em que comecam a chegar as primeiras imagens dos custos civis da intervencao norte-americana, podemos apenas imaginar o impacto interno e global para um Presidente como Barack Obama que baseou a sua campanha eleitoral na denúncia do militarismo republicano.

    Já este mês, na Foreign Affairs, John Mueller, Professor de Ciência Política da Universidade de Ohio, compara os motivos para a guerra de Obama com a procura de armas de destruição maciça no Iraque por George W. Bush. Na opinião do professor, a missão humanitária dos EUA em AfPak é mesmo a única justificação viável para a intervenção americana, uma vez que: primeiro, a chegada dos Talibans ao poder em Kabul é talvez inevitável (os próprios americanos encaram-na como uma solução provável); mesmo que os Talibans cheguem ao poder, existem bons motivos para acreditar que não irão resultar consequências de maior para os EUA, uma vez que estes estão mais preocupados com a administração internas do que questões de dimensão global; e, por fim, a Al-Qaeda, caso seja tão eficaz como os serviços de informação nos querem fazer crer (Mueller dúvida), é uma rede de agentes internacionais que comunicam entre si através da internet - daí, ser uma falácia a ideia de que a chegada dos Talibans a Kabul significará o restabelecimento de campos da Al-Qaeda no AfPak. No fundo, na opinião de Mueller, a Guerra em AfPak tem custos demasiados altos (nomeadamente, os 'knowns-unknowns' e os 'unknowns-unkowns' de uma possível derrota) para a sua justificação pública e os objectivos que se dispõe a cumprir.

    Sobre tudo isto penso que será importante recordar a velha máxima de que não devemos abandonar o desafio em sede da sua dificuldade. Pelo contrário, é nos momentos de maior pressão que os homens, assim como os Impérios podem provar a sua resiliência e adquirir eternidade. Do ponto vista moral e humanitário, AkPak é a guerra certa - a guerra que os EUA precisam travar para recuperar a sua dignidade enquanto povo e Império. Porém, exactamente pelo enorme peso desta expectativa, a Guerra em AfPak poderá também ser a queda da cadeira do senhor fechado na sala oval. Esperemos que esteja ciente deste facto.

    FIM

    quarta-feira, maio 06, 2009

    O julgamento do caso Politkovskaya - VII

    Continuamos hoje com a serializacao do artigo de Keith Gessen sobre o julgamento do assassínio de Anna Politkovskaya, publicado na edicao de 23 Marco da revista New Yorker:


    (Os outros réus: o antigo agente do F.S.B., Pavel Ryaguzov (E), e o ex-polícia, Sergei Khadzhikurbanov (D). Novaya Gazeta.)


    One of the biggest problems with the case was that, for a contract killing, it didn't seem to have left a money trail. When, during closed-session testimony, Lom-Ali Gaitukayev, the Makhmudovs' mobster uncle, had been given a market estimate of two million dollars for such an assassination, he joked, 'That money doesn't seem to have reached my nephews.' Earlier, in one of the more contentious moments in the trial, Moskalenko had tried to figure out what Dzhabrail Makhmudov lived on. He was evasive, but it was evident that he was living cheaply, staying on people's couches, taking money from his older brothers. Moskalenko wanted to know how he managed to talk so much on the phone. 'That's expensive,' she said.

    'No, it is no,' Dzhabrail said. 'I had a tarif fixe. It cost three hundred rubles' - about eleven dollars - 'a month. And it still costs three hundred rubles a month! Forever. If I ever get out of here, that's how much it'll cost!' The prosecution also tried to find the money. Quite dramatically, it told the court that Pavel Ryaguzov had bought an eighty-thousand-dollar Land Rover in the fall of 2006. Ryaguzov shook his head and said he'd had to take a loan to buy the car.
    'For how long?' Judge Zubov grew interested.
    'Three years.'
    'Could you have managed that?'
    'Well, I traded in my BMW, so it wasn't as much.'
    'Oh,' the Judge said.

    Everyone in the court acted as if the prosecution had failed once again. 'That's nothing,' the veteran reporter said as we filed out for lunch. 'Show me those boys' - Ibragim and Dzhabrail - 'in a Land Rover, then it'll mean something.' The open secret of the trial as it touched on the F.S.B. and the police was that they were already incredibly corrupt. 'Friends,' Musaev said in his closing statement, 'has any of you ever visited Lubyanka Square in Moscow? Have you looked at the cars parked there? It goes Mercedes, Audi, BMW. Mercedes, Audi, BMW. Ryaguzov's Land Rover was probably the cheapest in the whole lot.' One evening, as I was wandering around the Arbat after a very long session, I happened to spot Judge Zubov eating dinner with a number of court employees in the Bosfor, a popular, mid-priced Turkish restaurant. And I thought of one of Khadzhikurbanov's outbursts when the prosecutor mentioned a dinner he'd had with Ryaguziv and a prominent Chechen businessman in the upscale Napoleon Restaurant, in late September of 2006. 'So what?' Khadzhikurbanov cried out. 'I ate dinner at nice restaurants all the time!'

    He was a former police officer with a wife and three young kids who had just got out of jail - and yet you believed that, even without participating in a high-priced contract killing, he had enough going on that he could eat out all he wanted. It was a world through which money circulated, and a world which, as it turned out, the Judge and the prosecutors didn't have access. They sounded like people who, when faced with the ways of the rich, immediately suspect a sinister plot. Of course, they were right: there is a plot. It just wasn't necessarily a plot to kill Politkovskaya. And so, in the court, the F.S.B. officer and the former police detective laughed at them.


    (O Juíz Zubov parecia frequentemente aborrecido pelo julgamento e foi apelidado pelos jornalistas russos como 'Winnie the Pooh'. AFP/Getty)


    On February 3rd, an elderly journalist in a suburb north of Moscow was apparently outside his house. Two days later, the editor-in-chief of the independent radio station Ekho Moskvy came home to find a log with an axe sticking out of it lying outside his door.

    At the Politkovskaya trial, once it became clear that the defendants were not guilty of the crimes of which they had been accused, the question became how a case so important could possibly have come to court with an indictment so obviously weak. Even the defendants had theories on this score. 'They've got what they wanted,' Ryaguzov said during one break. 'They got to announce on television that they'd arrested an F.S.B. agent. It doesn't matter what happens next. They've already said it, they've already won.'

    Musaev hypothesized that the government hadn't been counted on Musaev. 'These boys come from a poor family,' he said. 'They didn't have money to live on, much less for a lawyer.' (Musaev was working for free.) He asked if I'd seen Ibragim's court-appointed lawyer, 'the little one, with glasses.' He said, 'They'd have got lawyers like that, who sit quietly the whole trial. I'm not trying to brag, but a fact is a fact. Now at least there's some hope.'

    There was a further reason for the weakness of the case. On the day of the murder, the cameras at the Ramstore supermarket had captured two people, a man and a woman, who were clearly following Politkovskaya. This would explain how the shooter knew so precisely when Politkovskaya would get home. (It wasn't because Ibragim was standing on some street corner.) What's more, unlike the video of the shooter in front of Politkovskaya's building, the Ramstore video shows the suspect faces. According to Sergei Sokolov, of Novaya Gazeta, the investigation followed the trail of these people very aggressively at first, and then suddenly stopped. The suggestion was that the people in that video were untouchable.




    FIM

    domingo, maio 03, 2009

    Justiça Popular

    É um caso de ´vira-se o feitico contra o feiticeiro.´ Vital Moreira ou alguém perto dele, teve a brilhante ideia de aproveitar o dia 1 de Maio para uma 'photo opportunity' do candidato com os líderes sindicais de forma a associar a campanha do PS às europeias ao movimento dos trabalhadores. Porém, desta feito, o povo, cada vez mais exasperado com a crise e a classe política portuguesa, nao estava disposto a fazer o papel de bobo. Demostrou desagrado e depois perdeu o controlo. Vital disse que este era o seu momento Marinha Grande mas é claro que nao é. Nem Vital é Soares, nem a campanha é a mesma, nem o país é o mesmo. Estes acontecimentos representam um gigantesco tiro no pé que provam apenas que a política do oportunismo tem os dias contados em Portugal. Na falta de melhor justificacao, o PM, eterno farsante, veio depois dizer que o acontecimento fazia parte de uma campanha de ódio contra o PS...porém, ficamos a dúvida: se os tribunais estão contra o PS, se os jornalistas estão contra o PS, se os professores estão contra o PS e se agora o povo também está contra o PS, quem afinal não está contra o PS?