A Gaivota Farragulha

    sexta-feira, julho 31, 2009

    Isto sim, é um escândalo!




    Fátima Felgueiras foi ontem absolvida de todos os crimes de que era acusada no chamado "caso do Futebol." As acusações remontam a um segundo processo judicial, sendo que no primeiro, o famigerado "caso do Saco Azul", Felgueiras tinha já sido condenada a três anos e três meses de pena suspensa. Quer isto dizer que, ao final de cinco anos de acusações e deliberações, Fátima Felgueiras acaba por não passar um único dia na prisão. Não podendo especular sobre a sua culpabilidade nos processos judiciais em que foram já julgados em tribunal - e cumpre-nos o dever de ter fé na imparcialidade e mérito deliberativo deste - podemos apenas perguntar-nos como é possível que alguém que fugiu, tão cabal e publicamente, à justiça, possa evitar a prisão? Pelo menos um crime ela cometeu. Será que a memória é curta? Ou será que persiste neste país a máxima feudal de que a justiça não se aplica a todos?

    Os casos semelhantes são demasiado numerosos para contabilizarmos. Ainda ontem vi na televisão, um Vale e Azevedo gordo e sorridente a saltar para dentro de um black cab londrino depois de conseguir mais um adiamento da sua extradição para Portugal. Acima de tudo, fica um sabor muito amargo sobre o futuro dos processos da Casa Pia, do BCP, do BPN, BPP e do Freeport. Tal como o caso da ex-autarca, estes processos irão certamente arrastar-se nos tribunais até que se dilua a memória pública do crime e se invente uma forma de contornar ou manipular a lei. O que se passa a seguir é bem sabido: os réus são todos absolvidos e o crime, esse que resiste sempre às marés do tempo como uma cicatriz inapagável, morre órfão. Mas nem sequer nisto há interesse: a absolvição de Fátima Felgueiras ontem não integrou o leque de notícias que abriram os telejornais; e os governos, quer do PS ou do PSD, evitam falar sobre a urgentíssima reforma da justiça portuguesa. Isto sim, é um escândalo.

    sexta-feira, julho 24, 2009

    O regresso de Alice ao Mundo das Maravilhas segundo Tim Burton



    Podemos finalmente ver as primeiras imagens do último filme de Tim Burton - ‘Alice no País das Maravilhas’, com data de lançamento em Portugal marcada para Março de 2010. A história do filme é baseada no conto original de Lewis Caroll, mas segue uma linha narrativa diferente, sendo que, neste caso, Alice está mais velha e regressa ao País das Maravilhas. Porém, não se recorda de lá ter estado. Para além dos magníficos cenários (ou não se esperaria outra coisa de Burton), o filme conta também com um elenco de luxo: Johnny Depp interpreta o Chapeleiro Louco; Helena Boham Carter é a malvada Rainha de Copas; Mia Wasikowska, da série de televisão In Treatment, encarna a Alice; Anne Hathaway, a mesma do Diabo Veste Prada, é a Rainha Branca; e o genial Matt Lucas, da não menos brilhante comédia britânica Little Britain, desempenha os papéis dos gémeos Tweddle-Dee e Tweddle-Dum. Esperamos ansiosamente o seu lançamento nas salas de cinema em 3D.

    quarta-feira, julho 22, 2009

    Os 'organizadores'


    (A realidade imita a ficção? TV Guide)


    Esta vai para a rifa de Verão*: qual é o elo de ligação entre Barack Obama, a Casa Branca, a indústria cinematográfica de Hollywood e a revigorante sitcom da HBO, Entourage? Bem, diriam vocês, há vários pontos de ligação a começar pela atitude cool, o sucesso, a juventude e o guarda-roupa irrepreensível das personagens em ambos os cenários. Não obstante a plausibilidade destas semelhanças, elas são porém insuficientes para estabelecer uma conexão directa entre os quatro pontos. Também não é o facto de o Entourage, como foi recentemente noticiado pelo blog Politico, ser o programa de televisão favorito do Sr. Presidente. Como bem sabemos, e as audiências comprovam, os seguidores assíduos da série são muitos e variados. Qual é então o ponto de ligação que associa directamente e exclusivamente Obama ao show Entourage?

    Nada mais, nada menos do que a história de sucesso de uma família judia. Tudo começou com o encontro, nos anos 50 em Chicago, entre o pediatra Benjamin M. Emanuel e a activista social, Mascha Smulevitz. Pouco depois casaram e tiveram três filhos: Ezekiel J. Emanuel; Rahm Emanuel; e Ari Emanuel (mais tarde, os pais adoptaram uma rapariga). Sobre o pulso firme da mãe, que tanto os obrigava a ir a aulas de ballet como a participar em manifestações, os três rapazes frequentaram a Bernard Zell Anshe Emet Day School, uma escola conservadora judia, e seguiram carreiras diferentes: Ezekiel ('Zeke') tornou-se médico oncologista; Rahm estudou comunicação e mais tarde envolveu-se na política; e Ari, que entretanto foi diagnosticado com hiperactividade e dislexia, começou a trabalhar no mundo do espectáculo.


    (Ezekiel, Rahm e Ari fizeram dos Emanuel uma das famílias mais poderosas dos EUA. Getty Images)


    Não demorou muito até que os três alcançassem sucesso incomparável nas respectivas áreas de ocupação: Ezekiel doutorou-se em Harvard e hoje é o Director do Departamento de Bioética do National Institutes of Health e um dos conselheiros mais próximos de Obama em matéria de saúde pública; Rahm afirmou-se como estratega político, foi assessor político de Bill Clinton durante a sua presidência e hoje é o Chief of Staff de Barack Obama (cuja importância e poder mereceram-lhe o cognome de ‘the Gatekeeper’ pela revista New Yorker – basicamente ele decide o que Barack faz e com quem ele fala); e, finalmente, Ari fundou a agência de talentos Endeveour Agency e hoje é o dono da WME Entertainment, que gera receitas anuais entre 275 e 300 milhões de dólares e representa, entre outros artistas, Martin Scorsese, Charlize Theron, Jude Law, Matt Damon e Sacha Baron Cohen. Juntos eles recriam o mito do American Dream, como noutros tempos recriaram os Kennedy e os Rockfellers.


    O twist final nesta história é que a personagem de Ari Gold na série Entourage é claramente inspirada em Ari Emanuel, irmão do famoso médico e do poderosíssimo assessor de Obama. Para além das claras evidências físicas e de estilo (sim, Ari ‘o verdadeiro’, é também conhecido pelo abrangente emprego do seu vasto lexico sobre a injúria), mas também pelo facto de ambos, representarem na série e na vida real, Vin Diesel e Larry, e, mais significativamente, Mark Wahlberg, o produtor da série. Dizem os rumores que foi o próprio Ari Emanuel que escolheu Jeremy Piven para o papel, alegando que não aceitaria que mais ninguém o representasse na ficção. Afinal, por aquilo que se escreve das reuniões entre os três irmãos, bem se pode imaginar Ari ‘o verdadeiro’ exclamar para qualquer um dos outros: ‘Let’s hug it out, bitch!’





    * Uma vez que vivemos dias de crise, a rifa não oferece mais do que uma boleia e um gelado na praia caso se encontrem na minha área de captação. Caso contrário, vão ter com o senhor dos gelados e digam que fui eu que mandei. Pode ser que resulte!

    terça-feira, julho 14, 2009

    Balochistão - o conflicto invisível


    (O Baluquistao é o ponto de ligacao entre o Paquistao, o Irao e o Afeganistao. Al Jazeera)

    Em 1962, numa visita oficial ao Paquistão, Henry Kissinger, quando questionado sobre a rebelião armada no Balochistão respondeu: 'I wouldn't recognize the Balochistan problem, (even) if it hit me in the face.'

    Hoje, essas palavras reclamam desforra. A questão do Balochistão ainda não atingiu os EUA directamente na face, mas está cada vez mais perto disso, tendo já, por diversas vezes, tido oportunidade de deferir golpes indirectos sobre a política da região. Como foi referido anteriormente neste blog, o povo do Baluchistão, os Baloches, identificam-se como um grupo étnico (na sua larga maioria, Sunis Muçulmanos), que demanda, no mínimo, um estatuto especial dentro do República Islâmica do Paquistão e, no máximo, um território nacional autónomo. O sentimento generalizado da população face ao estado central foi resumido nas palavras de um dos líderes históricos do movimento, Nawab Akbar Bugti Khan: 'I have been a Baloch for several centuries. I have been a Muslim for 1,400 years. I have been a Pakistani for just over fifty.'

    Na verdade, os Baluches nunca quiseram fazer parte do Paquistão. Assim, desde a criação do estado paquistanês, os Baluches organizaram já cinco rebeliões armadas contra este: 1948 (logo a seguir à fundação do Paquistão); 1958-59; 1963-69; 1973-77; 2004-até hoje. Existem diversos factores que alimentam o nacionalismo Baluch: a homogeneidade linguística, o sistema tribal elaborado, a extrema pobreza da população mesmo em comparação com o resto do Paquistão (por exemplo, apenas 20% da população tem acesso a água potável contra 86% a nível nacional) e, curiosamente, uma enorme riqueza em minérios. Especialistas acreditam que no Balochistão se situam as maiores reservas mundiais de cobre (matéria-prima para maquinaria militar) e o estado é também rico em gás natural e ouro.

    Hoje, porém, a disputa adquire novos contornos de acrescida importância para a política externa dos EUA naquela que é uma das regiões mais explosivas do mundo. Em primeiro lugar, o Baluchistão fica a meio caminho entre o coração do Paquistão; o problemático sul do Afeganistão; e o este do Irão. Instabilidade dentro do Balochistão significa também instabilidade em qualquer um destes países, o que em alguns casos pode até ser bem-vindo (Irão), mas noutros (Paquistão e Afeganistão) é absolutamente indesejável. A rebelião Baloches tem tentáculos em todos estes países, e ontem mesmo, foram executados no Irão 12 membros de um suposto grupo terrorista Baloche. Em segundo lugar, é exactamente na província do Baluchistão que se situa hoje a maior população de refugiados do mundo, Afegãos, na sua maioria Pashtuns. Esta situação tem vindo a contribuir não só para a deterioração dos problemas sociais e económicos da província, mas também para gerar um conflito de natureza étnica entre Baluches e Pashtuns - inquietante, no contexto fragmentado do Paquistão. Por fim, existe também o projecto de 2 biliões de dólares financiados por capital chinês no porto de Gwadar, estrategicamente situado no mar Arábico, que envolve também a construção de uma auto-estrada até o hub comercial do Paquistao, Karachi. Para além de ser foco de instabilidade entre a população Baloche (que vê a sua riqueza escoada para as províncias mais ricas do Paquistão, o Sindh e o Punjab), o projecto demonstra que os Chineses têm interesses no Baluchistão.

    Não, o problema do Baluchistão ainda não embateu na face dos EUA, mas tudo se encaminha para que um dia o faça.


    * O problema Baluchistão é tao remoto que foi impossível descobrir a forma correcta do nome da província em português. Em inglês, é Baluchistan. Em português, deveria ser Baluquistao. Todavia, os únicos hits que tive quando fiz uma procura no google.pt foi com o nome Baluchistao, portanto decidi usar essa terminologia. Caso conhecam a forma correcta de escrever este nome nao deixem de a partilhar. Obrigado!


    sábado, julho 11, 2009

    De um assassínio e dos entendidos que comentam no Público



    (Ilan Halimi assassinado no dia 13 de Fevereiro de 2006. AFP)


    Ilan Halimi, judeu de origem marroquina, era apenas alguns meses mais velho do que eu. Olhando para imagens dele, dir-se-ia que partilhamos até algumas parecenças físicas. Porém, ao contrário do meu, o futuro de Ilan foi violentamente roubado aos 23 anos de idade. No dia 20 de Janeiro de 2006, Ilan, até aí vendedor numa loja de telemóveis em Paris, foi aliciado até um apartamento no subúrbio de Bagneux por uma rapariga de origem iraniana chamada Yalda. Nesse apartamento, Ilan foi atacado por um gang juvenil, os auto-intitulados ‘Bárbaros’, e torturado ao longo de 24 terríveis dias. Os captores pediram à família de Ilan um resgate de 450,000 euros, mas à medida que se tornava cada vez mais evidente que a família de Ilan não conseguiria reunir esse dinheiro, o suplício de Ilan tornava-se pior: foi repetidamente espancado, esfaqueado e queimado, não só pelos membros do gang, mas também por outros membros da comunidade que acorreram ao apartamento para observar e participar no massacre. Finalmente, os ‘Bárbaros’, maioritariamente de origem muçulmana, decidiram despejar um líquido inflamável sobre Ilan e pegar fogo ao seu corpo. No dia 13 de Fevereiro, Ilan foi encontrado nu, amarrado a uma árvore junto a uma via-férrea dos arredores de Paris. Morreu a caminho do hospital.

    O caso chocou a França e levou o então Ministro do Interior, Nicolas Sarkozy, a acautelar contra o anti-semitismo na sociedade. Os ‘Bárbaros’ acabaram por ser encontrados e capturados e 27 indivíduos (incluindo um luso-descendente, Jérôme Ribeiro) foram constituídos arguidos. O julgamento chegou ao fim na passada sexta-feira, sendo que o cabecilha do grupo, Youssouf Fofana, foi sentenciado a prisão perpétua, o que em França significa um mínimo de 22 anos de enclausuramento.

    Agora, imaginem que tinham acabado de ler esta notícia no site do Público – ela foi publicada nas mesmas linhas que este artigo com o título - França: homem acusado de matar jovem judeu condenado à pena máxima – e o género de reacções que ela causaria em vocês. Choque? Repugnância? Revolta? Pesar?! Ora, depois de ler a notícia, o comentador identificado com o nome Abu da Lixa, decidiu escrever:

    “Tantos crimes hediondos cometem os judas e nenhum é condenado!...440 crianças assassinadas na Palestina por esses criminosos/assassinos!!!”

    Não lhe terá ocorrido que o ‘judas’ neste caso não era criminoso, nem assassino, muitos menos merecia ser condenado ao destino trágico que teve, mas sim a vítima de um crime hediondo. Ao ler este comentário, o leitor identificado com o nome TNT, predispor-se a vestir a capa de justiceiro:

    “NTN Abu: O teu comentario antisemita e racista esta poluir este site.”

    Porém, arranjou logo mais um inimigo porque dois minutos mais tarde, às 15h11 de uma pacata tarde de Sábado, o comentador Amadis de Setúbal escreveu:

    “TNT, NTN, pá , desde quando clamar por Justiça pela morte de centenas de crianças é anti-semitismo e racista? Tristeza de comentário o teu...não deves ter filhos.”

    A partir deste ponto já mais ninguém travou a discussão. O mais interessante é que estas discussões rapidamente adquirem o tom de discussão de café, como se Amadis, TNT e Abu fossem primeiros nomes perfeitamente normais em Portugal, e como se um estivesse atrás do balcão a contar os trocos e o outro estivesse sentado sozinho na mesa do canto, com o jornal de desporto aberto à sua frente. No entanto, temos dúvidas se os comentadores teriam coragem de fazer certas afirmações, caso estivessem confinadas no mesmo espaço e já se conhecessem ‘de ginjeira.’ Assim, às 15h45, a conversa rumou para águas mais agitadas com o seguinte comentário de Amadis:

    “o meu caso é clínico mas não cínico. Curem-se, virgens ofendidas. O Abu comentou. Por que motivo lhe chamam nomes? Lá vou ter de vos chamar socialistas-fascistas, não admitem opiniões contrárias, são de uma arrogância extrema ! Não passam de carneiros sem cérebro.”

    Entretanto, o nível da conversa estava tão elevado que os outros clientes, que entretanto chegaram ao café-virtual do Público, não resistiram a entrar na discussão. Por exemplo, às 16h58, o Hugo da Terra do(s) Luís(es) – não me perguntem de onde esta gente arranja a criatividade para conceber alcunhas e locais tão engraçados – demonstra perspicácia e acusa:

    “Abu eu com esse nome posso bem associar-te ao islão, e se tiver uma mentalidade retrógada como a tua, em que não consiga distinguir atitudes e pessoas, posso dizer que tu és um inimigo do ocidente, que não aceitas o nosso modo de vida e consideras-nos infiés, ao ponto de não te importares de nos matar, pois a nossa vida não vale nada. Se todos fossemos assim tão retrógados, qq muculmano seria morto e perseguido. A tua sorte é que para este exmplo que dei, sabemos que Islãonão é a violência que uns poucos malucos apregoam. É difícil para ti veres o mundo assim, como ele é??Cprs”


    (Os caminhos misteriosos da opinião pública... Cartoon de John Doyle)

    No ensejo de mediar a contenda, às 18h28, joaorapace chega a duas conclusões fundamentais: o Público não pesquisou bem a notícia e nenhum dos outros comentadores conhece o tema com a seriedade que merece. Decide então, no formato condensado de um comentário, dissertar sobre as falácias do artigo, as origens étnicas do anti-semitismo, o anti-semitismo de Hitler, os motivos do crime, o conflicto israelo-árabe, a identidade judaica contemporânea e ainda lhe resto espaço para fazer uma acusação aos restantes leitores:

    “Este artigo tem erros. Youssouf Fofana será árabe ou berber logo se é no primeiro caso não podemos estar a falar de antisemitismo porque também os árabes são descendentes de Sem tal como os judeus. Se é no segundo caso os berberes apesar de não serem ascendentes de Sem nos tempos pré islâmicos foram convertidos ao judaísmo e depois mais tarde converteram-se ao islão. Logo também não podemos falar de antisemitismo. Antisemitismo foi o que fez Hitler e os alemães que não sao povos semitas e aniquilaram como selvagens 6 milhões de inocentes. Quanto à questão palestiniana esta também é complexa e de difícil resolução. A Onu atirou o problema de cá para lá, lavando as mãos. O motivo de Youssouf era dinheiro 450 mil euros tem sentido porque mais uma vez a ideia é quase sempre a mesma, motivos monetários e não razões de crianças palestinianas que eu também lamento, claro. O pessoal que aqui escreve é que leva isto não sei para onde, conjecturando, afirmando quando as razões são tão óbvias. Quanto ao resto parece-me que os judeus ainda hoje são sinónimo de diferentes, quando a única diferença é o facto de serem uma minoria religiosa em relação a outras. Este pessoal inventa...”

    Pouco depois a Maria de Berlim, acusa o Público de ser pró-Israel, uma ideia tão absurda que era capaz de fazer o Ariel Sharon levantar-se da sua coma:

    “O publico é um jornal pro-israel, ou pelo menos o seu director é-o de uma maneira quase doentia (lembro-me bem do tipo de artigos de opinião que escreveu durante a guerra do Libano de 2006 e dos titulos tendenciosos escolhidos para as noticias).”

    Ás 18h45, o adr de Amesterdão conclui que os judeus ainda não foram suficientemente condenados e que é preciso abrir os olhos ao pessoal:

    “esta malta que esta no estrangeiro falam duma maneira que me da a ideia que nào sabem ainda onde estào.os maiores piratas sào os judeus.ja disse isso varias vezes esperiênçia propria. ......querem tudo so para eles.o hitler sabia o que eles era ou não fosse ele meio judeu imaginem se fosse judeu a 100%.abram os olhos.80%da população mundial esta a ser explorada por judeus.abram os olhos.e a maioria dos imigrantes que falam mal de portugal e dizem que em frança é que e'bom ou alemanha ou holanda ou belgica ou noutro lado qualquer essas pessoas são autenticos escravos.viva portugal.quanto a noticià sem comentarios.viva portugal.subscrevo-me adr.”

    Por fim, um leitor identificando-se como o Tono da Merdaleja (pensa-se que terá escolhido este nome de livre e espontânea vontade..) coloca-se do lado do bom-gosto e compara o Público ao jornal da TVI– ninguém lhe terá dito que no resto da Europa o caso tem sido amplamente discutido nos meios de comunicação:

    “Fica um bocadinho mal ao Publico escrever uma noticia destas... É que notoriamente so aparece aqui porque o assassiado era judeu. Se nao o fosse ja nao seria noticia. Estas tendências semitas é que poderão criar o anti-semitismo. Para mais quem escreve a noticia não consegue disfarçar a sua "tendencia". Nao consegue nem sequer ser minimamente profissional e escrever uma noticia de opinião neutra. Fez questão de mostrar a sua posição. Mais uma Manuela Moura Guedes... Ja disse e repito. Nao tarda muito e este jornal está pior que o 24horas.”

    Quer dizer, fosse isto há um século atrás e estes mesmos comentadores reprovariam a decisão do Público de publicar o caso de Dreyfus (um oficial do exército francês, de origem judia, acusado e injustamente condenado por crime de traição). Também a França se sentia ameaçada e também o anti-semitismo existira antes. Porém, o desagrado que o caso gerou não foi suficiente para travar um dos capítulos mais crúeis da história da Humanidade. Segundo a opinião destes senhores, observariamos impassíveis os sinais do tempo. Acima de tudo, são hipócritas que não têm qualquer tipo de vergonha em exibir imparcialidade quando exigem isso do próprio jornal de onde recebem informação. Enfim…depois de ler estes e outros comentários fica-se com uma imagem muito triste de Portugal.



    FINAL

    terça-feira, julho 07, 2009

    E se Ronaldo nao fosse Português...

    A apresentação de Cristiano Ronaldo no Real Madrid levou 80,000 adeptos ao Estádio de Santiago Bernadeu. Em Portugal, segundo li hoje no Público, os canais de televisão aproveitaram para dar uma injecção de Ronaldo ao público, o que lhes mereceu uma nota negativa do jornal. A verdade é que muitos Portugueses estão já pelos cabelos com o Cristiano, as suas 'Cristianitas' e o exército de discípulos com brinquinho na orelha e boné na cabeça. Recentemente, num jantar de portugueses e estrangeiros, a conversar adoptou um tom subitamente sério quando me perguntaram se gostava do Ronaldo: eu sentia que não, mas queria dizer que sim e, ao mesmo tempo, sentia que sim, mas queria dizer que não. Enfim, como diria o próprio Ronaldo no seu português nasalado: 'Não há palavras para explicar....' Vai daí, e perante a 'nossa' dificuldade em aceitar aquele que é de momento, o português mais reconhecido em todo o mundo, decidi fazer um exercício em transmutação de identidade e imaginar como reagiriam os outros povos caso o Ronaldo fosse um deles.


    Se Ronaldo fosse Inglês: A sua apresentação ontem no Real Madrid teria aberto o noticiário da ITV, do Channel 4 e prefiguraria num lugar de destaque no noticiário da BBC; o 'The Sun' traria hoje estampado na capa uma fotografia dele a fugir dos adeptos que invadiram o relvado, sobre o título: 'Get your hands off our boy'; o 'The Guardian' dedicaria grande parte da secção do desporto ao percurso do futebolista e contaria com uma coluna de Kevin McCarra ('Ronaldo may well be the best player in the world, but he still has a lot to learn') e de Russell Brand ('Ronaldo's departure to Spain means more ladies for me!').

    Se Ronaldo fosse Espanhol: Os Reis de Espanha estariam presentes ontem no Estádio de Santiago Bernabéu; a revista Hola! apresentaria na capa uma entrevista com a irmã de Ronaldo, por essa altura já estrela de pop consolidada no mercado nacional e na América Latina, com o título: 'Liliana Cátia, 'La Ronalda', muy ilusionada con el regresso de su hermano'; nas ruas de Barcelona, queimar-se-iam imagens de Ronaldo e mais tarde haveriam confrontos entre adeptos de futebol e as forcas policiais; no programa Aquí hay tomate da Telecinco uma 'amiga pessoal' do jogador revelaria em directo que ele a teria pedido em casamento na noite de domingo.

    Se Ronaldo fosse Brasileiro: o Estádio de Santiago Bernadeu estaria vestido de verde e amarelo e haveria tambores em vez de cornetas; Ronaldo acabaria o discurso a agradecer a Jesus, Yemenjá e a Alá; o Ministro brasileiro da cultura seria ofuscado pela rapariga loira sentada ao seu lado; nos meios de comunicação internacionais, a notícia seria alternada com imagens da infância pobre do menino numa favela do Rio de Janeiro, flashes de sambistas e lances de futebol; Dunga causaria apreensão ao afirmar que o lugar de Ronaldo na próxima 'Copa do Mundo' não estaria assegurado'; uma miúda de sete anos no Estado de São Paulo teria batido o recorde do Guiness ao cozer a maior camisola de futebol, com o número de Ronaldo no Real Madrid, feita inteiramente de trapos.

    Se Ronaldo fosse Marroquino: a entrada no Estádio estaria interdita a não-sócios; nos subúrbios a norte de Paris começaria uma guerrilha urbana; por todo o Médio Oriente colar-se-iam imagens de Ronaldo nos vidros dos carros, nas entradas dos restaurantes, hotéis e lojas, nos postes de electricidade e nas paredes das casas; as Nações Unidas fariam dele um Embaixador da Boa Vontade para o mundo de expressão árabe; os mullahs no Afeganistão pronunciariam uma fatwa sobre o jogador acusando-o de participar num jogo blasfemo, de estar rodeado por infiéis e de ser um mau exemplo para a juventude; Ronaldo já estaria casado e teria cinco filhos.

    Se Ronaldo fosse Alemao: ninguém em Espanha iria ao Estádio e ninguém na Alemanha ligaria muito à notícia - para além dos portugueses, isto é!

    segunda-feira, julho 06, 2009

    Uma dieta para o Parlamento Europeu



    (Política à moda Europeia segundo Khalid Bendib.)


    Os sintomas são inequívocos: o Parlamento Europeu está doente. Perdeu vigor, passa o dia sonolento e deixou escapar a vivacidade que tinha quando era jovem e toda a gente lhe achava muita piada. Até os melhores amigos o abandonaram e agora pode apenas contar com os poucos que precisam do seu bom-nome para atingir misteriosos fins. Nos últimos anos, vários foram os médicos que o observaram e encolheram os ombros em desistência. Os males são muitos e os tratamentos escassos e espinhosos. Porém, este clínico, que desde Fevereiro deste ano acompanhou de perto o paciente, acredita ter chegado a um diagnóstico conclusivo: a doença não é fatal, mas requer cuidados imediatos. Com efeito, o Parlamento Europeu padece de um caso de obesidade galopante que poderá em breve degenerar em graves impedimentos ao seu funcionamento 'normal'. As camadas adiposas que se têm vindo a acumular, nomeadamente na zona lombar e nos glúteos, exigem hoje uma dieta rigorosa que deverá acompanhar por um programa abrangente de exercício físico. Ficam então aqui as quatro regras essenciais do regime que o Parlamento Europeu deverá seguir:
    1. Redução do número dos deputados no Parlamento Europeu para metade: a nova sessão parlamentar deverá contar com 736 eurodeputados (passaram a ser 751 deputados caso o Tratado de Lisboa entre finalmente em vigor) – um número altamente inflacionado quando comparado com os actuais poderes e funções de cada um deles. Basta uma visita ao website do Parlamento Europeu (http://www.europarl.eu/) para se perceber que mais esforços foram gastos à procura de comissões e delegações para tantos representantes do que na criação de um website acessível que ajude os cidadãos a compreender o que anda tanta gente a fazer entre Bruxelas e Estrasburgo. A título de exemplo, na Casa dos Representantes dos EUA existem apenas 435 deputados.

    2. Estabelecimento de um sistema de supervisao e acompanhamento das actividades dos eurodeputados: Quando os políticos e analistas se perguntam porque os cidadãos europeus não acorreram às urnas, amiúde se esquecem que muito poucos sabem quem são os seus eurodeputados, quem são e como funcionam os partidos políticos europeus e, muito menos sabem quais são as suas precisas funções. Com efeito, remendar o tão discutido 'deficit democrático' das instituições europeias passa por informar os cidadãos das funções específicas de cada deputado. Para além do mais, atenuaria a actual atitude de isenção e irresponsabilidade de alguns (muitos!) deputados que aproveitam o mandato para viajar (à custa do contribuinte europeu...) e não para estudar e propor novos projectos legislativos. Casos como o de um eurodeputado italiano que tem o escritório no Parlamento Europeu absolutamente vazio (nem sequer uma mesa tem, lá dentro) porque nunca vem a Bruxelas nao sao raros – no entanto, podem reclamar o ordenado como eurodeputado, os salários dos seus assistentes (não existentes) e subsídios de viagem. Como foi sugerido recentemente na rubrica Charlemagne do The Economist, esse novo sistema poderia passar por uma conciliação entre os membros do Parlamento Europeu e os membros dos respectivos Parlamentos nacionais, por exemplo pela obrigatoriedade da apresentação de relatórios mensais dos eurodeputados nas assembleias nacionais. Resta mencionar que o modelo actualmente empregado de avaliação dos Eurodeputados, através da contabilização das suas intervenções no Parlamento, não toma em conta a qualidade dessas intervenções – um deputado pode intervir muitas vezes no Parlamento, sem, no entanto, fazer qualquer substantiva contribuição. Entre os meus colegas gregos é bem conhecido o caso de um Eurodeputado prolixo que intervinha para sugerir que a sede do Parlamento se mudasse para Atenas (uma ideia, de resto, muito popular entre o público grego).

    3. Reforma do sistema de despesas dos eurodeputados: Este é o ponto central da dieta prescrita para o Parlamento Europeu, uma vez que ataca muito os depósitos sebáceos que se concentram na zona das coxas e dos glúteos. Até agora os membros do Parlamento Europeu eram pagos de acordo com os salários das respectivas câmaras baixas dos seus países, mas o novo estatuto dos eurodeputados (que deverá entrar em vigor no final deste ano) estipula um salário igual para todos os eurodeputados de €92,000. O problema aqui não é tanto o valor dos ordenados, como o montante em despesas que os eurodeputados podem reclamar: em viagens, em secretariado; em manutenção dos escritórios; em subsídios de deslocação; etc. Na sequência do escândalo das despesas no Reino Unido, parece extraordinário que ninguém tenha se lembrado de fazer uma investigação do género no Parlamento Europeu; a verdade é que o estatuto dos Eurodeputados, de novo ratificado no Parlamento Europeu em Marco de 2009, permite-os manter em segredo as suas despesas. No entanto, existem alguns rumores de que os eurodeputados conseguem acumular até 2 milhões de euros em salários e despesas: como foi noticiado este ano pela BBC de acordo com um estudo do Tax Payer's Alliance (TPA); no artigo 'How to make a million in five years (become a Euro MP)'; e por própria admissão de Nigel Farage, líder do partido eurocéptico britânico, UKIP, de que teria reclamado 2 milhões de libras (dá para perceber que os ingleses têm queda para este tipo de investigações). Uma práctica muito em voga neste momento entre os Eurodeputados é aproveitar apenas parte dos estipêndios para assistentes parlamentos e guardar para si ou direccionar o resto do montante para os seus respectivos partidos políticos.

    4. Abandono do assento do Parlamento Europeu em Estrasburgo: Um facto vastamente desconhecido entre os cidadãos europeus é que apesar das despesas em trazer 785 eurodeputados para Bruxelas todas as semanas + os seus assistentes, muitas vezes quatro ou cinco + os funcionários permanentes do Parlamento Europeu em Bruxelas, desde segurança, a tradutores, a representações permanentes de cada país – o Parlamento Europeu não se reúne em plenário, isto é, todos juntos, nesta cidade. Em Bruxelas têm apenas lugar as reuniões das diferentes comissões e algumas sessões parlamentares (geralmente meramente formais, como a presença de um chefe de estado). Essas sessões plenárias tomam apenas lugar 12 vezes por ano, geralmente uma em cada mês, no hemiciclo em Estrasburgo. Em cada uma delas, os Eurodeputados e, em geral, um dos seus assistentes mudam-se de malas e bagagens para Estrasburgo num TGV especialmente requisitado para o propósito. Esta operação custa uns módicos 203 milhões de euros anuais aos contribuintes europeus. Porém, não desesperem! Existe um motivo para esta peregrinação mensal: Estrasburgo situa-se na Alsácia, na fronteira entre a Franca e a Alemanha, e o assento do Parlamento Europeu na cidade justifica-se pelo seu simbolismo no plano da paz e da unificação europeia. Numa altura de crise, em que os eurodeputados se apressaram a convidar os seus eleitores a apertar os cintos, parece curioso que ninguém se tenha lembrado também de abandonar simbolismos frívolos na União Europeia.

    5. Dieta rigorosa para as despesas de funcionamento do aparelho de Bruxelas: Numa instituição com a dimensão do Parlamento Europeu, o desaproveitamento de fundos é provavelmente uma inevitabilidade. Não duvido que o mesmo se passe nas outras grandes instituições democráticas do mundo. Porém, julgo que existe um limite para tudo e esse limite no Parlamento Europeu já foi ultrapassado. Um dos casos a mencionar são as vernissages e os cocktails que decorrem no Parlamento ao fim da tarde: julgo que o princípio para estes eventos foi conceder aos estados membros e às suas populações uma plataforma para divulgar a sua cultura. Todavia, essa ideia tem sido agora levada ao extremo com vários eventos a decorrer no edifício do Parlamento no mesmo dia, frequentemente competindo entre si pelo público volátil (assistentes parlamentares) que oscila entre a banda mais sonora, a maior oferta de vinhos e os canapés mais exóticos. Por vezes, os eventos começam antes das seis e meia, hora oficial da conclusão das actividades parlamentares; outras vezes, eles acabam em desgraça devido à ganância dos presentes. Outro caso gritante de desperdício e falta de planeamento foi também o da merchandising das Eleições Europeias de 2009: caixas e caixotes 'Made in China' aterraram nos corredores do Parlamento Europeu apenas duas semanas antes do fim-de-semana das eleições. Conclusão, a grande maioria da merchandising acabou por nunca chegar às mãos dos eleitores e hoje está aqui, empilhada em caixas até ao tecto, dentro dos escritórios dos eurodeputados (fomos obrigados a retirá-las dos corredores porque impediam a passagem). Num caso como no outro, mais do que o desgasto dos fundos europeus, o problema é sobretudo a cultura que estas situações nutrem nos funcionários europeus. Se até os mais magros se tornarem obesos, o Parlamento Europeu terá grandes dificuldades em alguma vez curar-se dos males que sofre.

    sábado, julho 04, 2009

    Porque se retira Sarah Palin?

    A demissão de Sarah Palin como Governadora do Alaska apanhou todos de surpresa. Da mesma forma que irrompeu na cena política americana em Setembro do ano passado, a 'hockey mum' parece agora convencida a correr a cortina e abandonar o palco. No comunicado da demissão, Palin, no seu melhor estilo, falou sobre tudo, desde do baseball aos desafios energéticos do século XXI, excepto sobre os motivos concretos que a levaram a tomar a decisão. Porém, nas entrelinhas do discurso poderia entender-se que a Governadora desejava responsabilizar os meios de comunicação pela decisão.

    De qualquer forma, ninguém acredita que a pressão dos media fosse suficiente para derrubar Palin. Assim, poucos minutos após a revelação da decisão, a comunidade online estava povoada por rumores sobre os possíveis motivos da retirada inesperado de Palin. O mais quente era que Palin teria se demitido para preparar a candidatura presidencial pelo Partido Republicano em 2012. No entanto, vários comentadores políticos lembraram que a demissão de Palin poderia ser mais prejudicial do que benéfica para as suas aspirações presidenciais, uma vez que poderia servir de fundamento a críticas de oportunismo e incoerência. Outro rumor na Internet é que Sarah Palin recebeu uma ‘proposta que não poderia recusar’ da Fox News para apresentar um programa: alguns comentadores disseram que, depois da campanha presidencial de 2008, o Alasca tinha-se tornado demasiado pequeno para Palin, que agora pretendia começar uma carreira à escala nacional. Para a antiga Miss, um programa de televisão poderia ser também um excelente ponto de partida para uma posição política de destaque. Por fim, foi também mencionado que Palin abandonou o cargo para travar as novas investigações sobre o caso ‘Troppergate’ em que Palin e o seu marido eram ambos acusados de abuso de poder por forçarem a demissão do ex-marido da irmã da Governadora. Numa altura em que os seus ratings de popularidade atingiam os níveis mais baixos, Palin poderá ter tomado a opção política de estancar a corrente negativa neste ponto e iniciar uma nova fase.

    Seja qual for o motivo, podemos ter a certeza que (infelizmente, a meu ver) esta não será esta a última vez que ouviremos o nome de Sarah Palin.



    quinta-feira, julho 02, 2009

    BBC aplaude política anti-drogas em Portugal

    A publicacao destes resultados já nao é nova. Desta feita, é o site BBC News que aplaude os resultados positicos da política anti-drogas comecada durante o governo de António Guterres. O jornalista é Mark Easton.