A Gaivota Farragulha

    terça-feira, novembro 24, 2009

    Brasil descola na cena diplomática


    (Dois presidentes, uma bomba nuclear: a próxima novela brasileira? El País)



    O discutível Presidente do Irão, Mahmoud Ahmadinejad, começou ontem um périplo pela América Latina com paragens óbvias na Venezuela e na Bolívia e menos óbvias no Brasil. Antes de chegar, a presença do carrasco da paz mundial no país do samba já havia gerado consternação, dentro e fora de fronteiras. Sob o cabeçalho 'Vergonha de ser brasileiro’, Sérgio Malbergier, editor da secção Dinheiro da Folha de São Paulo e membro da numerosa comunidade judaica brasileira, escreveu: "O presidente brasileiro, genuinamente humanista, parece ter sido enrolado pelo terceiro-mundismo que domina os seus antecessores e o Itamaraty." Por sua vez, o Representante Democrata Eliot l. Engel comentou ao The New York Times que "esta visita é um erro enorme, um terrível erro. (...) Ele (Ahmadinejad) é ilegítimo perante o seu próprio povo, e agora o Brasil irá dar-lhe o ar de legitimidade numa altura em que mundo está à tentar evitar que obtenha armas nucleares. Não me faz sentido nenhum e, francamente, prejudica a imagem do Brasil." Na ocasião propriamente dita, o Presidente Lula defendeu o direito do Irão ao enriquecimento de urânio para ‘fins pacíficos’ e o Presidente Ahmadinejad expressou o desejo de ver o Brasil envolvido no processo de paz no Médio Oriente.

    À primeira vista, a reunião parece fruto de um encontro simétrico de interesses. Lula dá legitimidade ao regime de Terão e Ahmadinejad “abençoa” a entrada do Brasil no pequeno palco das grandes decisões mundiais (aliás, o Presidente Iraniano apoiou também a inclusão do Brasil como permanente do Conselho de Segurança da ONU). Porém, nem tudo o que parece é; e no Médio Oriente, parecer é frequentemente mais relevante do que ser. Pois, parece que na fotografia está Ahmadinejad e Lula, mas, na verdade, está lá Ahmadinejad e Barack Obama. Perdoem-me o cepticismo, mas não creio que Lula da Silva, a quem Obama chamou ‘my favourite guy’, tomasse a iniciativa de receber o Presidente Iraniano sem aval de Washington. Por outro lado, Lula apresenta aos dois lados a oportunidade de prosseguir as negociações sem danificar a sua imagem interna: Barack Obama não necessita de ceder perante os caprichos de Ahmadinejad; e este mantém a linha dura diante ao Ocidente. Finalmente, Lula recebe o bónus de afirmar o Brasil no plano diplomático internacional sob um alto custo e maior risco. O custo é adquirir magnetismo às críticas. O risco é poder cair dentro do caldeirão do Médio Oriente. Mas o esforço e a coragem são sempre meritórios. Na minha plebeia opinião.

    sexta-feira, novembro 20, 2009

    Addio, Adieu, Auf Wiedersehen, Goodbye


    (Os noivos no dia do casamento. AP)


    Deve ser da neblina que paira sobre Bruxelas. Obstrui a reflexão, confunde as ideias e retorce a realidade. Esta é a explicação mais plausível que encontro para o auto-flagelismo recente da União Europeia. Como exclamava esta manhã o antigo Primeiro-Ministro francês, Michel Rocard: “A Europa política está morta; com efeito, ela já sofreu cinco assassínios, todos eles mortais.” O resto da imprensa europeia está de acordo:

    - Teresa de Sousa do Público escreve que “A Europa perdeu a primeira grande oportunidade de provar que falava a sério quando afirmava que o Tratado de Lisboa (…) Não poderia haver uma figura mais apagada e sem história que a sua (Herman Van Rompuy).”

    - Michael White do The Guardian escreve: "Shaming and dreadful" is how one prominent colleague privately put it half an hour ago. (…) I'm struggling to be positive here. Ashton's never been elected; (…)Much more important, she is still a relative novice in trade issues – having taken over from Peter Mandelson barely a year ago – let alone the dangerous, devious world of international diplomacy.” Mais tarde, White conclui que, com estas nomeações, as ambições federalistas da Europa confirmam-se a ilusão que muitos têm postulado nos últimos 15 anos.

    - O Frankfürter Allgemeine Zeitung escreve: “Será que estas duas personagens poderão encarnar o élan prometido por aqueles que nos governam? O Tratado de Lisboa é a versão light daquela que à partida foi baptizada como ‘Constituição da EU’. O termo provou ser demasiado grande para as ambições dos Europeus. Os títulos de Ministro dos Negócios Estrangeiros e de Presidente da UE passam agora também a ser demasiado grandes.”

    - O El País ‘puxa a brasa à sua sardinha’ (afinal, Filipe Gonzáles chegou a ser proposto por Sarkozy como alternativa) e afirma: “La elección de Ashton sorprendió mucho más por su inexperiencia en asuntos diplomáticos. Fuentes comunitarias comentaban con cierta sorna que "los británicos querían liquidar el servicio exterior y lo han conseguido". Otros comentarios más críticos subrayaban la contradicción que supone "elegir a una persona con menos conocimientos y experiencia que Solana para un cargo con más competencias que el que actualmente desempeña Solana".

    - Por sua vez, Quentin Peel para o Financial Times, escreve: “The immediate reaction in Washington on Thursday was one of shock and disappointment. (…)It shows that the advent of the Lisbon treaty has done nothing to make the distribution of jobs between 27 member states any easier.”

    terça-feira, novembro 17, 2009

    Sarah Palin Soma e Segue

    (A capa da Newsweek desta semana. Huffington Post)


    Sarah Palin finalmente chegou à capa da Newsweek, a revista generalista global de inclinação esquerdista. Todavia, a fotografia escolhida não foi bem aquela que a ex-Governadora do Alasca, ex-candidata a Vice-Presidente e concorrente virtual das eleições de 2012, teria elegido. Na realidade, a fotografia foi registrada anteriormente, quando Palin ainda exercia funções no Alasca, e integrava uma reportagem para a revista Runner's World - daí os shortes, como diriam os nossos irmãos brasileiros. Enfim, Palin não gostou da brincadeira e ripostou na sua página do Facebook (faz me lembrar alguém...):
    "The choice of photo for the cover of this week's Newsweek is unfortunate. When it comes to Sarah Palin, this "news" magazine has relished focusing on the irrelevant rather than the relevant. The Runner's World magazine one-page profile for which this photo was taken was all about health and fitness - a subject to which I am devoted and which is critically important to this nation. The out-of-context Newsweek approach is sexist and oh-so-expected by now. If anyone can learn anything from it: it shows why you shouldn't judge a book by its cover, gender, or color of skin. The media will do anything to draw attention - even if out of context."

    segunda-feira, novembro 16, 2009

    'Sarah Palin é uma anedota'

    Com Obama na China e o mundo em estágio para a Conferência de Copenhaga, o lançamento amanhã do livro de memórias políticas de Sarah Palin, Going Rogue, está rapidamente a tornar-se no centro das atenções. Na semana passada, a antiga Governadora distribuiu 'Y'alls folks' e outros coloquialismos em entrevistas nos talk-shows mais populares dos EUA, ateando novos rumores de uma possível candidatura presidencial. Ontem de manhã, Palin mereceu a atenção dos comentadores do programa 'This Week' (confesso que desconhecia o programa e que fiquei algo jubilante em saber que os programas de debate nos EUA não se resumem às nulidades que costumamos ver). No programa, o colunista conservador do New York Times, David Brooks, acusa Palin de ser 'uma anedota'. Não concordo. Palin não é uma anedota, é um monstro político.