A Gaivota Farragulha

    terça-feira, maio 11, 2010

    Morrer na praia


    (Figuras de cera ou políticos reais? The Guardian)



    Desde do momento em que foi eleito líder inesperado do Partido Conservador, David Cameron pautou-se pela relação ambígua com a ideologia do partido. Por um lado, Cameron definia-se como o 'change-maker' que abriria o partido às mulheres e às minorias étnicas e traria para a esfera política temas progressistas como o ambiente e a coesão social. Antevia-se o nascimento de um novo tipo de conservador, o conservador do século XXI, mais aberto às sensibilidades do tempo em que vivemos. Devo confessar que fiquei verdadeiramente impressionado quando ouvi a minha colega Shiobana Khan, filha de mãe Colombiana e pai Paquistanês e nata em Putnam, subúrbio da classe média baixa do sul de Londres, proclamar que iria votar Cameron nas próximas eleições - ou seja, estas que decorreram no princípio deste mês de Maio de 2010 (twenty-ten). 

    Por outro lado, Cameron piscava o olho ao conservadorismo radical, colocando-se na ala dos eurocépticos, dos neo-liberais, dos anti-sindicalistas e dos que perigosamente defendiam que alguma coisa deveria ser feita acerca dos polacos, portugueses e húngaros que todos os dias roubavam empregos a bons e genuínos britânicos. Deste modo, surgiu a ideia que sobre aquela capa de compaixão e modernidade, escondia-se um 'tory da pior espécie', que iria destruir o Estado Social Britânico e polarizar a sociedade. A comprová-lo estava o seu percurso académico: Cameron estudou em Eton e mais tarde, enquanto estudante em Oxford, pertenceu ao Bullingdon Club - um clube elitista de jantares de estudantes, conhecido pela riqueza e mau comportamento dos seus membros (do qual também fazia parte o seu futuro Chanceller, George Osborne). À medida que os anos passaram sobre a eleição do 'leader-in-waiting', a mudança do clima económico assim como a necessidade de combater a crescente popularidade do BNP (British National Party), trabalharam para sedimentar a convicção que Cameron seria 'at heart' mais conservador do que progressista. Em suma, Cameron seria o reflexo masculino de Margaret Thatcher - porém, como reflexo e não fonte original, Cameron seria mais fraco politicamente e menos talentoso individualmente do que o seu arquétipo. E dessa imagem, nunca mais se conseguiu libertar.

    Ontem ficamos a saber que Gordon Brown apresentou a sua demissão para viabilizar uma aliança entre Trabalhistas - Labour - e Liberais-Democratas - Lib-Dem. Hoje, ficamos a saber que tal demissão aponta também para o falhanço das negociações entre os Tories e os Lib-Dem. Na verdade, nem Labour, nem Lib-Dem, têm facilidade, ou antes estão interessados, em extender a mão através do fosso ideológico que separa o centro e o centro-esquerda da direita britânica sobre jugo de David Cameron - e o fantasma imortal de Thatcher. Como vários comentadores ingleses lembraram, tal coligação seria um defraudar das expectativas dos que, apesar da decepção, votaram Labour ou Lib-Dem nestas eleições. E se querem saber a minha opinião, foi precisamente esse o aspecto que mais determinou o resultado eleitoral: os britânicos queriam mudar de Gordon Brown, mas não queriam entregar o poder de bandeja a David Cameron. Entre os dois e o utopismo de Nick Clegg, acabaram por se dissipar. Não quer isto dizer que Cameron não chegará ao número 10 de Downing Street; continua a ser o cenário mais provável. No entanto, o que esta situação antecipa é a necessidade de novas lideranças e de novas eleições. Onde é que eu já vi este filme...

    terça-feira, maio 04, 2010

    Finalmente, o Gordon que faltava



    Fiasco atrás de fiasco: não há melhor forma de descrever a campanha eleitoral de 2010 de Gordon Brown. É pena, pois dos três candidatos, Brown parece-me ser o que está melhor informado e o que tem uma opinião mais equilibrada sobre os diferentes dossiers. Faltou-lhe sobretudo talento político: um sorriso grande estampado na cara, carisma, respostas prontas e faro para saber quando poderia ou não falar. No quadrante político, Brown foi mesmo míseravel, lembrando-me uma política portuguesa que, apesar de estar do lado da razão, não conseguiu convencer o eleitoral. Hoje, porém, Gordon Brown mostrou o que poderia ter sido a campanha, se tivesse mantido uma postura mais competitiva. Infelizmente, hoje é tarde de mais...