(Yad Vashem ou o Museu do Holocausto em Jerusalém. IndigoeoMar)
A história deveria começar aqui.
O nome veio de um versículo do Antigo Testamento: "E a eles darei a minha casa e dentro dos meus muros um memorial e um nome (Yad Vashem) que não será arrancado." (Isaías 56:5.)” O propósito veio da memória recente: Yad Vasem é o museu e memorial para “Recordação dos Mártires e Heróis do Holocausto.” O espírito preenche a lacuna entre o caos e a realidade: a perseguição do povo judeu.
À entrada (gratuita, assim como o shuttle que nos leva através de um bosque desde da estrada principal até às portas do memorial), uma senhora pergunta-nos de onde somos. Surpresa! Somos do país de um grande homem, um homem que arriscou a vida para salvar milhares de judeus, um homem chamado Aristides de Sousa Mendes. Diz-nos para acorrermos ao memorial das crianças vítimas do Holocausto, e procurar no jardim dos ‘Justos entre as Nações’, do lado direito uma árvore com o seu nome – é a apropriada homenagem que o povo judeu lhe concede. Mais informação no site do memorial, aqui.
É também, felizmente, a única referência ao nosso país no museu inteiro. Pois, o Yad Vashem não se confina às brutalidades cometidas pelos Nazis na primeira metade do século vinte; ao longo de onze primorosas salas, o Yad Vashem narra a história de segregação e violentação do povo do judeu e da qual quase ninguém, nem mesmo os EUA, sai incólume (no capítulo da Inquisição, fala-se da Espanha e não de Portugal). O museu dedica particular atenção aos antecedentes europeus do nazismo, nomeadamente o aumento do nacionalismo e episódios como o affair Dreyfus, e estabelece uma lógica e sensata ligação entre o geral e o particular – afinal, o Nazismo não foi uma excepção. Entre outras curiosidades do museu, existe um filme sobre profissões tipicamente desempenhadas por judeus antes do nazismo e a recriação da sala de estar de uma família judia abastada.
Mais do que impressionar pelas atrocidades, as salas dedicadas aos Holocausto procuram abranger a variedade de experiências judias durante este período negra da história. Fala-se dos campos de extermínio e das câmaras de gás, mas também dos campos de trabalho, dos judeus que fugiram para outros países, dos que viveram ocultos sobre ocupação alemã, dos que foram forçados a longas caminhadas no final da guerra (marchas da morte), dos que se revoltaram, dos viveram nos guetos, dos idosos e dos doentes, dos que foram salvos por oficiais alemães, dos que morreram e sobreviveram, entre muitas outras realidades. No fundo, fica-se com a sensação de que o Holocausto não foi o episódio monolítico como é frequentemente retratado pela imprensa: o povo judeu estava sob ameaça iminente em todo e qualquer lugar.
Perceber isto é perceber porque os judeus querem um Estado só para eles. É perceber também porque os Judeus atribuem um valor tão alto à segurança dos judeus, enquanto indivíduos e enquanto povo. É começar a perceber a história do conflito israelo-árabe. Ainda bem porque no dia seguinte partiríamos para a Palestina. Estávamos preparados.